“Presencing: O Futuro Não se Prepara, se Presencia”

Ao produzirmos a biografia de carreira da Sonia Keiko — Vice-Presidente de Novos Negócios & Head de Inovação & Transformação na ENGEMON — encontrei uma passagem em que ela menciona a Teoria U, de Otto Scharmer. Resolvi escrever este artigo para compartilhar esse aprendizado, que conecta inovação, liderança e transformação a partir de uma nova consciência de futuro.

Em um mundo onde as crises são cada vez mais complexas — do colapso ambiental à instabilidade institucional — os modelos tradicionais de liderança mostram-se insuficientes. A Teoria U, desenvolvida por C. Otto Scharmer, professor do MIT Sloan School of Management, surge como uma proposta inovadora de transformação profunda, baseada na escuta, na consciência e na cocriação do futuro.

Uma nova consciência para liderar

A Teoria U parte do princípio de que os desafios do século XXI não podem ser resolvidos com os mesmos modelos mentais do passado. Scharmer (2009) afirma que “a qualidade dos resultados produzidos por qualquer sistema depende da qualidade da consciência a partir da qual os participantes operam no sistema”. Em outras palavras, mudar a forma de ver e se relacionar com o mundo é o primeiro passo para mudar o próprio mundo.

A jornada do “U”

A Teoria U propõe uma jornada em três grandes movimentos, que compõem a curva do “U”:

  1. Sensing (Observar profundamente):
    Requer abrir a mente e o coração para observar o sistema de forma isenta, sem julgamentos ou pressupostos.
  2. Presencing (Presença + Sensing):
    É o ponto de inflexão. O sujeito acessa sua fonte mais autêntica, o “eu futuro”, conectando-se ao campo das possibilidades emergentes (Scharmer & Kaufer, 2013).
  3. Realizing (Prototipar e cocriar):
    É a fase da ação. A partir da nova percepção, protótipos são construídos e sistematizados para criar novos sistemas mais humanos, sustentáveis e justos.

Fundamentação teórica

A Teoria U é influenciada por diversas escolas de pensamento:

A proposta também se ancora nos princípios da aprendizagem organizacional, ao afirmar que os indivíduos e organizações aprendem de forma mais eficaz quando atuam com propósito e atenção plena (Senge, 2006).

Presencing é o momento em que nos conectamos com o nosso melhor potencial, e com o futuro que deseja nascer através de nós.”
— C. Otto Scharmer

Aplicações práticas

A metodologia já foi aplicada em empresas como Google, Intel, Fujitsu e BMW, além de iniciativas globais voltadas para a sustentabilidade, inovação educacional e governança participativa. No Brasil, organizações como a Escola Schumacher Brasil e o movimento Art of Hosting vêm utilizando a abordagem para fomentar processos de liderança participativa e inovação social.

Além disso, a Teoria U foi base para o desenvolvimento do curso global “u.lab”, oferecido gratuitamente pelo MITx, com mais de 140 mil participantes em mais de 185 países, incluindo comunidades indígenas, empresas e governos.

Do ego-sistema ao eco-sistema

Um dos conceitos centrais da Teoria U é a transição do “ego-sistema” para o “eco-sistema”, ou seja, sair de uma visão autocentrada (baseada em escassez e competição) para uma perspectiva coletiva e regenerativa (baseada em abundância, colaboração e interdependência).

Scharmer e Kaufer (2013) apontam que essa transição é essencial para enfrentarmos as três grandes divisões do nosso tempo:


Referências

Conclusão

Mais do que uma metodologia, a Teoria U é um convite para reconectar o ser humano com sua essência e seu propósito coletivo. Em tempos de ruptura e transição, ela aponta para um futuro que não apenas espera ser alcançado — mas que deseja emergir através da nossa consciência e ação transformadora.

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