VOCÊ É RICO?

Muitos de nós, quando desejamos algo, não temos ideia do que realmente queremos. Todos querem ser felizes, mas o que realmente é ser feliz? Da mesma forma, a grande maioria quer ser rica, mas o que é exatamente ser rico?

Talvez, numa perspectiva inicial, possamos pensar que ser rico é ter dinheiro suficiente para fazer o que quiser e não ter nada com que se preocupar. Será isso verdade?

Um princípio básico da economia é que  os desejos são ilimitados e os recursos limitados, o que impõem necessidades de escolhas e renúncias. Adicionalmente, os bens após a sua aquisição geram uma satisfação decrescente. Por exemplo, alguém que utiliza transporte coletivo, ficará feliz em adquirir um veículo, mas passado euforia inicial, a tendência é começar a se comparar com o vizinho e desejar comprar um carro mais novo e mais caro.

A materialização dos desejos de consumo gera uma satisfação fugaz, sempre estaremos correndo atrás da próxima aquisição para repor aquela emoção que se perdeu. É literalmente uma corrida sem fim, mas lembre-se de que os recursos são limitados.

Na coluna anterior, escrevi sobre a diferença entre sermos e estarmos. Uma das grandes armadilhas que a embriagues do sucesso provoca é nos fazer acreditar que aquele momento será permanente. Isso não nos deixa perceber que tudo na vida é impermanente e se comporta por ciclos.

Qual é a tendência da maioria quando ganha mais dinheiro? Na grande maioria das vezes a renda incremental será destinada ao aumento consumo, e, talvez, uma pequena parcela ao aumento de poupança.

Mas, qual deveria ser a  poupança mínima que uma pessoa deveria acumular? A resposta depende de qual é o prazo médio para recolocação no caso de um eventual demissão. Ou seja, ter poupança suficiente para suportar o tempo de transição permite que você tenha tempo e tranquilidade para escolher a melhor oferta. Quanto maior for a sua poupança em quantidade de meses de salário, maior será a sua segurança e conforto emocional.

Bom, e agora que já tenho poupança que me dá conforto para enfrentar um eventual desemprego, posso relaxar?

Um erro muito comum é definir o padrão de consumo em função da renda e não estabelecer o que seria um padrão satisfatório de consumo. Lembre-se o desejo é ilimitado e dinheiro na mão é vendaval, então porque não uma segunda casa, um terceiro automóvel, viagens? Afinal, não fica bem eu, na minha posição, não ter uma casa de veraneio, certo? Além do que, dinheiro serve para gastar, e nós, que trabalhamos tanto, merecemos!

Mais difícil do que ganhar é saber usar o dinheiro adequadamente. No livro “Pai Rico , Pai Pobre” o autor R. Kiyosaki nos fala que a maioria, quando ganha dinheiro, compra passivos. Ou seja, compra bens que geram despesas como casa de veraneio, carros adicionais, etc. Somente uma minoria investe em ativos, bens e/ou aplicações financeiras que geram rendimentos. Enquanto o primeiro comportamento gera despesa, o segundo gera receita. É a diferença entre  comprar uma casa na praia para uso familiar e investir em um apartamento para alugar.

Se você acha difícil resistir às tentações e ter disciplina, aqui vai um pequeno estímulo: você sabia que se aplicar hoje no Tesouro Direto, que atualmente está pagando IPCA+6,7% ao ano (a.a.), com liquidez imediata e menor risco de crédito do mercado, em cinco anos o seu patrimônio aumentará 38,30% acima da inflação. Em 10 anos, você terá praticamente dobrado o seu investimento (91,27% acima da inflação) sem fazer nenhuma mágica ou ter acesso a dicas fantásticas. Este é o fenômeno dos juros compostos, ou seja, juros sobre juros.

Agora imaginemos que você não é herdeiro nem funcionário público e tem um gasto mensal de R$ 25 mil. Você sabe que o rendimento da previdência social está longe de cobrir este valor, quais poderão ser suas opções, caso não tenha se programado para sua aposentadoria?

Continuar trabalhando para complementar a renda, ou cortar seus gastos ou começar a vender seu patrimônio adquirido ao longo da vida. Provavelmente um misto dos três. É muito diferente você continuar trabalhando por opção do que por falta de opção.

Numa conta rápida, suponhamos que, após aposentadoria com alguns ajustes de gastos e o rendimento da previdência social, você precisaria complementar a sua renda em R$ 18 mil por mês. Atualmente, se você tem aplicado R$ 3,2 milhões no mesmo título do Tesouro Direto (IPCA+6,7% a.a.) gerará uma renda permanente de R$ 18 mil por mês preservando o capital devidamente corrigido pelo IPCA pelo resto da vida. Quando você se for, deixará este valor para seus herdeiros.

Talvez a pergunta que venha é,  como consigo acumular este capital?

Num exercício estático, vamos supor que você assuma objetivo de poupar mensalmente R$ 5 mil e o investe em títulos de renda fixa que paga IPCA+ 6%a.a.. No prazo de 24,3 anos você terá acumulado os R$ 3,2 milhões. É o velho ditado “de grão em grão a galinha enche o papo” turbinado pelo sistema de juros compostos.

Mas afinal, o que é ser rico?

Ser rico, para mim, é ter dinheiro suficiente para viver uma vida que você escolheu e fazer as coisas que você gosta por opção e não ter de trabalhar por necessidade.

Fundamental neste processo é separar o montante que você planejou poupar tão logo receba seu salário. Deixar para poupar o que sobrar no fim do mês é o maior furo na água.

Eu sei, a maioria não faz isso. Mas a escolha é sua, fazer parte ou não desta maioria errante!

Nunca deixe para amanhã o que é importante mas não urgente!

Observações:

Usei exemplos do mercado financeiro por uma questão de facilidade, mas o mesmo raciocínio pode ser aplicado para investimento em outros ativos.

Os valores calculados estão brutos de IR e as taxas refletem realidade atual.

De 2014 ao final de 2023, aplicação em Renda Fixa (IPCA+6% aa) rendeu o dobro do que o CDI. No momento CDI está rendendo mais, mas considerando objetivos de longo prazo, historicamente Renda Fixa (IPCA+juros) rende mais.

Analise quem é o seu intermediário financeiro. Muitos tem sua remuneração atrelada a comissão paga pelas movimentações, o que faz com que possa haver um conflito de interesses entre seus objetivos de longo prazo e o sistema de remuneração do seu agente financeiro.

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