Diz a sabedoria popular que a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Nada mais sábio!
O mundo líquido do Bauman em que vivemos nos oferece um excesso de opções, seja a nível das relações pessoais, seja do ponto de vista profissional. Esse excesso termina gerando o stress da escolha, a perda de foco e enfraquece a nossa determinação. Quando se sabe que haverá outras oportunidades, temos a tendência a lidar com menos sangue nos olhos, a desistir mais facilmente, pois sabemos que haverá outras oportunidades.
Os jogos olímpicos nos fornecem múltiplos exemplos de como a escassez de oportunidade forja atletas de alto desempenho, que enxergaram no esporte a grande, se não a única, possibilidade de ascensão econômica e social e agarraram a oportunidade com unhas e dentes dedicando-se de corpo e alma.
E mesmo para a maioria, que não alcançou o seu objetivo primário de estar presente nos jogos ou subir no pódio, os benefícios secundários abriram oportunidades que ajudaram a construir um novo rumo a suas vidas.
Não sou atleta, mas de alguma forma me vejo como eles quando revejo a minha trajetória profissional.
Quando olho para o passado, eu tinha colegas com um background familiar mais sofisticado e mais inteligentes do que eu, um imigrante que estudou em escolas públicas e cuja família passava por dificuldades financeiras depois de um negócio malsucedido.
Naqueles tempos, eu mesmo não apostaria muitas fichas no meu sucesso. Quando penso no que me trouxe a ter um resultado muito acima do esperado, o principal fator que me vem a mente foi a falta de opções. Essa foi a causa raiz.
Quando saí da universidade o mercado de trabalho estava deprimido. Estamos falando da década de 80, conhecida também como a década perdida. Não havia muitas opções para um recém-formado, e lá fui eu abraçando o que aparecia.
Aprendi que ficar dividido entre duas opções era a pior escolha. É como ficar com cada pé em canoas distintas. Uma hora elas seguem trajeto distinto e você cai na água.
O fato de estar numa “canoa” não significava que estivesse alheio ao que estava acontecendo ao meu redor ou alheio às outras oportunidades. Mas enquanto estava num barco, estava de corpo e mente, até o momento em que a relação custo-benefício não fosse mais satisfatória. Então era hora de partir na construção de novos rumos. É mais ou menos como o Soneto da Fidelidade do Vinícius de Moraes, que termina com seguinte verso: “…Que não seja imortal, posto que é chama mas / que seja infinito enquanto dure”.
A falta de alternativas me ensinou a ser mais flexível e aproveitar todas as oportunidades que apareciam, não importando se aquilo estava de acordo com minha formação acadêmica, desde de que visse um sentido e oportunidade de crescimento. Mais do que tudo, queria ser bom, ser reconhecido como competente no que estivesse fazendo. A escassez foi uma grande fonte de inspiração e criação.
Não pretendo fazer apologia da escassez, mas lembrar que todo excesso faz mal, inclusive de opções. Não existe escolha sem dor da renúncia e o desafio é encontrarmos o propósito que nos sirva de guia para saber quando devemos trocar de barco ou não.
Para finalizar, quero compartilhar uma história que me ajudou muito. Um sujeito estava numa quermesse, e uma das provas era pegar o porco pelo rabo em três tentativas. Soltaram o primeiro porco, e esse era meio gordo e com um rabo de bom tamanho, mas a pessoa resolveu esperar o próximo.
O seguinte era mais magro e com um rabo menor. Então ele resolveu esperar pelo próximo, na esperança de que o terceiro fosse mais fácil de capturar.
O último era magrinho e não tinha rabo.