SANTA IGNORÂNCIA, BATMAN!

Uma das invenções mais importante no segundo milênio, que possibilitou a disseminação em massa de informações e lançou as bases para a Revolução Científica, foi a prensa móvel inventada pelo Johannes Gutenberg em 1439.

Assim, começou a democratização do acesso à informação, saindo de uma era de escassez para uma era de dilúvio de informações dos dias de hoje.

Se antes a ignorância poderia ser atribuída a falta de informação, o seu contrário não garante a disseminação do conhecimento. Atualmente a extrema abundância de informações dificulta largamente o processo de filtragem e, em geral, terminamos consumindo os conteúdos selecionados e oferecidos pelas plataformas.

A disseminação de fake news, apesar do seu nome repaginado, não é um fenômeno novo. Um dos maiores best sellers na Europa no início da era moderna, depois da Bíblia, foi uma obras escrita por um frei dominicano chamado Heinrich Kramer, em 1485, intitulado “O martelo das feiticeiras”. Nele o frei ensinava como desmascarar e matar feiticeiras, dando início ao período negro da história ocidental, que ficou conhecido como  “Caça às Bruxas”.

É uma característica do ser humano a necessidade de uma explicação para os eventos da nossa vida e do mundo que nos cerca. Para a grande maioria, para que uma explicação seja aceita, é suficiente que seja coerente para o indivíduo. É aquela situação em que alguém diz: “toda ave voa, galinha é uma ave, logo a galinha voa”. Exemplos não faltam.

 Poucos se dão ao trabalho de checar a hipótese se todas as aves voam, pois, numa análise rápida, ela nos parece coerente com minha percepção da realidade.

Isso acontece porque, inconscientemente buscamos informações que validem as nossas crenças. É o chamado viés de confirmação. Não damos valor e nem buscamos bos aprofundar em qualquer ponto de vista que não contribua para validar a nossa posição prévia.

O conhecimento científico evolui pela convivência com o contraditório. Ao contrário do que muitos gostariam ou acreditam, conhecimento científico não é expressão de uma verdade absoluta, como é a religião. Pelo contrário, só pode ser considerado ciência aquilo que pode ser refutado.  

Mas, como tudo isso afeta a nossa vida cotidiana?

Hoje em dia, não são somente as empresas de mídia que geram conteúdo, mas qualquer internauta conectado a uma rede social, inclusive eu.

Com a enorme quantidade de conteúdos que somos impactados diariamente, aquilo que Stephen Covey chamou de círculo de preocupação, o campo no qual estão contidas as coisas que estão no meu radar, mas sobre as quais eu não tenho nenhuma influência, tende a aumentar enormemente.

O contrário disso ele chamou de círculo de influência, o espaço no qual estão contidos os fatos sobre as quais eu tenho capacidade de atuar e transformar.

A abundância de informações não impacta na mesma proporção esses dois círculos. Ela aumenta muito mais o círculo de preocupações e, como minha energia é um fator limitado, quanto mais dedico minha atenção as coisas sobre os quais não tenho nenhuma influência, restará menos energia e atenção para atuar nos fatores que posso influenciar. Alocação de energia e atenção é um jogo de soma zero.

A questão é de equilíbrio. Não quer dizer que devo viver alienado dos fatos que não posso influenciar, pois, de algum modo e em algum momento, eles impactarão a minha vida. Mas como definir a alocação de atenção entre esses dois círculos?

Ao longo da minha vida, fui adaptando e aplicando a matriz BCG para minha vida pessoal,  para ajudar na definição das prioridades quanto a alocação da minha atenção.

Isso me ajudou a fugir da sedação que a discussão dos problemas alheios nos proporciona, e que, terminam por desviar nossa atenção daquilo que realmente é importante e urgente, e que está ao nosso alcance resolver.

Mas, como podemos transformar esta disponibilidade de informação em conhecimento?

Seja curioso, não se contente com a primeira explicação rasa.

Pergunte, questione, corra atrás!

E, nas nossas organizações, como está o equilíbrio entre o círculo de preocupações e o círculo de influência? Temos espaço para perguntas, questionamentos e aprendizados com os erros cometidos ou vivemos sob a égide de uma verdade absoluta?

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