A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou nesta terça-feira (3) uma revisão pessimista para o crescimento da economia global, citando como principal fator as consequências da guerra comercial impulsionada pelo governo dos Estados Unidos. A organização sediada em Paris alertou que a expansão global está desacelerando mais rapidamente do que o esperado há poucos meses.
Em seu mais recente relatório de Perspectiva Econômica, a OCDE projetou que o crescimento da economia mundial deve cair de 3,3% no ano passado para 2,9% em 2025 e 2026. As novas estimativas representam uma revisão para baixo em relação às projeções de março, que apontavam para um crescimento de 3,1% este ano e 3,0% no próximo.
A OCDE adverte que o cenário pode se deteriorar ainda mais caso o protecionismo se intensifique, o que poderia exacerbar a inflação, interromper as cadeias de suprimentos e gerar instabilidade nos mercados financeiros. “Aumentos adicionais nas barreiras comerciais ou incerteza prolongada reduzirão ainda mais as perspectivas de crescimento e provavelmente aumentarão a inflação nos países que impõem tarifas”, alertou o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, durante a apresentação do relatório.
Segundo Cormann, um aumento adicional de 10 pontos percentuais nas tarifas bilaterais aplicadas por Washington a todos os países, em comparação com as taxas vigentes em meados de maio, poderia reduzir a produção econômica global em cerca de 0,3% após dois anos.
Diante desse cenário, a principal recomendação da OCDE é a retomada do diálogo construtivo para encontrar uma solução duradoura para as atuais tensões comerciais. As tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, desde que assumiu o cargo, já causaram turbulências nos mercados financeiros e aumentaram a incerteza econômica global, levando-o, inclusive, a recuar em algumas de suas decisões iniciais. No mês passado, os EUA e a China chegaram a um acordo para uma trégua tarifária temporária, e Trump também adiou as taxas de 50% sobre a União Europeia até 9 de julho.
A OCDE revisou significativamente para baixo as projeções de crescimento da economia dos EUA, estimando agora uma expansão de apenas 1,6% este ano e 1,5% no próximo. Para fins de cálculo, a organização assumiu que as tarifas em vigor em meados de maio permanecerão inalteradas ao longo de 2025 e 2026. Em março, a previsão para a maior economia do mundo era de um crescimento de 2,2% em 2025 e 1,6% em 2026.
Apesar de as novas tarifas poderem criar incentivos para a manufatura nos Estados Unidos, a OCDE alertou que o aumento dos preços das importações diminuirá o poder de compra dos consumidores, e a incerteza na política econômica freará o investimento das empresas. Além disso, as receitas tarifárias mais elevadas compensarão apenas parcialmente as perdas de receita decorrentes da prorrogação da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017, de novos cortes de impostos e de um crescimento econômico mais fraco.
Na China, os impactos negativos do aumento das tarifas americanas serão parcialmente atenuados por subsídios governamentais para um programa de troca de bens de consumo, como celulares e eletrodomésticos, e por um aumento nas transferências de assistência social, segundo a OCDE. A organização estima que a segunda maior economia do mundo, que não é membro da OCDE, crescerá 4,7% este ano e 4,3% em 2026, com pouca alteração em relação às previsões anteriores de 4,8% em 2025 e 4,4% em 2026.
*Com informações da Reuters