O Budismo tem um conceito que gosto muito, que é o da impermanência. Nada é permanente, porém nós temos um forte sentimento de apego que coloca uma enorme barreira para aceitarmos que a realidade seja assim.
O apego faz com que tenhamos dificuldade em viver e aceitar as mudanças, pois elas geram desconforto, insegurança e além de tudo, nosso cérebro, que é uma máquina incrível, tem como missão principal preservar a vida e para isso, entre outras coisas, atua de modo a poupar energia.
Psicólogo israelense e ganhador do Prêmio Nobel de Economia (isso mesmo, Nobel de Economia), Daniel Kahnemam, nos mostra que o cérebro tem dois sistemas S1 e S2. O primeiro podemos dizer que é o piloto automático, fruto do nosso aprendizado acumulado, que não requer esforço. Enquanto o S2 se encarrega das coisas mais complexas. O interessante é que o S1 entra em ação de forma automática, enquanto o S2 precisa ser acionada, atua sob demanda. Sabe aqueles momentos em que você tem de parar as três coisas que está fazendo e focar numa questão? É quando você aciona o S2.
A tendência natural do S1 é rejeitar qualquer mudança, pois a primeira vista, traz trabalho adicional e insegurança. Logo, se não acionarmos o S2 para efetuar uma análise mais completa dos riscos e benefícios, ficaremos presos ao conhecido.
O que todos gostaríamos é uma vida sem problemas, verdadeiro Shangri-la. Mas como não é possível ignorá-los, os encaramos como algo ruim, absolutamente negativa que nos desvia do “paraíso”.
Me parece equivocado, se não pretencioso, esperar que um ser imperfeito possa criar e atuar em uma organização perfeita, uma sociedade livre de problemas. Mesmo porque, dado que tudo é impermanente, o que foi criado ontem para e por pessoas de ontem, hoje estas pessoas já são outras.
Neste cenário, parece mais inteligente assumirmos que a vida é um exercício contínuo de superação de problemas. Elas não são pontos fora da curva. É a própria curva.
Mas por favor, longe de pensar que devemos aceitá-los e nos conformarmos passivamente como uma fatalidade, ou que, como eles sempre existirão, de que vale o esforço para corrigi-los.
Se observarmos o progresso da humanidade desde da idade das pedras, veremos que ela ocorreu através das tentativas contínuas para solucionar os problemas existentes em cada época.
Então por que o demonizamos tanto?
Penso que parte da resposta nos foi dado pelo Kahneman. S1 está no comando no nosso cérebro na maior parte do tempo. Ele é o nosso piloto automático, não perde tempo, respostas e reações são automáticas, logo consomem pouca energia e tudo que sai do padrão, para ele é um estorvo.
Para que possamos ter um outro olhar, é necessário acionarmos o S2. Só assim poderemos enxergar além do que é aparente, entender e capturar a oportunidade que está oculta.
Por diferentes motivos, a grande maioria prefere viver sob conforto do S1 e lamentam sua falta de “sorte” quando olham o sucesso alheio.
Tenho um grande amigo que foi um grande executivo, que fala que a especialidade dele é transformar merda em adubo!
Em tempo, trabalhei em quatro organizações multinacionais onde logrei atingir os mais altos postos, e isto só foi possível pelas oportunidades geradas pela quantidade enorme de problemas então existente.