Quase um ano após o lançamento, o programa Voa Brasil, iniciativa do governo federal que prometia democratizar o acesso ao transporte aéreo com passagens a R$ 200 por trecho, enfrenta dificuldades significativas para alcançar seus objetivos. Dados divulgados pelo Ministério de Portos e Aeroportos revelam que, de julho de 2024 a maio de 2025, apenas 41.165 bilhetes foram comercializados, representando apenas 1,37% da meta de 3 milhões de assentos prevista para o período de 12 meses.
O levantamento também aponta para uma queda acentuada nas vendas nos últimos cinco meses. Após registrar 5.308 passagens vendidas em janeiro, o volume caiu para 2.604 em maio, indicando um recuo de 17% em relação a abril.
No mês de maio, a Gol reportou a venda de apenas dez passagens pelo programa, atribuindo o resultado a um problema técnico em seu sistema. Já a Azul comercializou 743 bilhetes, enquanto a Latam liderou as vendas com 1.851. No acumulado, a Latam também se destaca com 42,6% das reservas, seguida pela Gol (42%) e pela Azul (15%).
O balanço do programa expõe sua dependência da oferta de assentos pelas companhias aéreas, especialmente em períodos de baixa temporada, uma vez que não há aporte de recursos públicos. Essa dinâmica leva as empresas a disponibilizarem, prioritariamente, assentos ociosos em rotas específicas, visando otimizar a rentabilidade de seus voos.
A autonomia das companhias na definição de destinos e preços, estabelecida desde a criação da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) em 2006, também influencia o cenário. Essa liberdade regulatória visa estimular o mercado e a concorrência no setor.
Idealizado pelo então ministro Márcio França, o projeto Voa Brasil enfrentou atrasos em sua implementação, gerando preocupações na Casa Civil quanto ao seu potencial de sucesso. Lançado em julho de 2024, o programa permanece restrito a aposentados do INSS que não realizaram viagens aéreas nos 12 meses anteriores. A prometida extensão aos alunos do Programa Universidade para Todos (Prouni) ainda não se concretizou, aguardando a consolidação de dados pelo Ministério da Educação.
Apesar dos números aquém do esperado, o Ministério de Portos e Aeroportos defende que o Voa Brasil cumpre um papel social importante ao facilitar o acesso de pessoas de baixa renda ao transporte aéreo. A pasta ressalta que a meta de 3 milhões de bilhetes representava o volume que “as companhias se comprometeram a oferecer”.
Em abril, conforme dados da Anac, a tarifa aérea média em voos domésticos atingiu R$ 588,38. Contudo, mais da metade dos assentos vendidos (aproximadamente 55%) custou até R$ 500, indicando a disponibilidade de passagens mais acessíveis por meio de promoções e compras antecipadas, cenário que concorre diretamente com o programa Voa Brasil.