A emergência climática é tema material do conselho de sua empresa?

Por muito tempo, o aquecimento global foi tratado apenas como um problema ambiental, como se o aumento da temperatura fosse responsável apenas pelas mortes de alguns “bichinhos”.

Ledo engano, a emergência climática, desde a Covid-19, deixou de ser apenas um problema ambiental e passou a ser também um problema econômico. O desmatamento das florestas, somado à elevação das temperaturas preocupa pesquisadores da saúde também por causa dos seus impactos na transmissão de doenças patogênicas. “70% das doenças infeciosas circulam entre animais e humanos (zoonoses). Dentro disso, 72% são causados por patógenos da vida silvestre. Então, quando os ecossistemas são abalados, apresentam maior risco de transmissão de patógenos para humanos”. IEA, 2021.

Ademais, nos últimos anos, com o cenário marcado por eventos climáticos extremos como geadas, períodos de seca e excesso de chuva, ocorrendo de forma desordenada e fora dos períodos habituais, vem se desencadeando uma preocupação crescente com a degradação do solo, forçando agricultores a redesenharem suas estratégias de plantio. Além de prejudicar a produção agrícola, as mudanças climáticas impactam diretamente os preços dos alimentos, pela instabilidade na oferta de alimentos, “quebras de safras” e oferta de alimentos, representando um desafio adicional no cenário mundial, com um possível aumento da fome (Santos, 2024).

Então, independentemente do setor, seja de um setor eletrointensivo, agronegócio, saúde, bens de consumo e outro, importante a política de sustentabilidade da empresa ter uma estratégia climática de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) e na ampliação do consumo de energia de fontes renováveis.

Além disso, a definição de ações da agenda climática deverá ser apoiada por estudos de oportunidades e riscos climáticas, sendo que os riscos relacionados ao clima estejam integrados no mapa estratégico da companhia.

O plano de descarbonização deverá incluir metas de curto, médio e longo prazo, de preferência, em conformidade com as diretrizes e baseadas na ciência (Science – Based Targets Initiative _SBTi), conferindo maior confiabilidade e verificabilidade dos resultados e progressos atingidos.

Antes disso, necessário fazer um diagnóstico setorial da empresa para apontar o grau de maturidade da gestão climática da companhia e, assim, indicar oportunidades de melhorias. Por exemplo: quanto às emissões do escopo 2 (emissões indiretas de gases do efeito estufa associadas ao consumo de eletricidade e energia), verificar a possibilidade de substituição de equipamentos no final de sua vida útil por alternativas de menor impacto ambiental, ou equipamentos com selo de eficiência energética, utilização de iluminação LED e adquirindo energia de fontes incentivadas do mercado livre de energia.

O fato é que termo “materialidade” surgiu no contexto dos relatórios financeiros para descrever informações que podem impactar no valor da empresa e influenciar diretamente a tomada de decisão dos investidores. Quando o dado é considerado material, sua presença no relatório seria considerado essencial para permitir aos investidores a avaliação sobre a saúde financeira e o desempenho futuro de uma empresa. (ABNT PR 2030, 2022).

Já a integração das políticas climáticas em estratégias corporativas tornou-se essencial à medida que as empresas enfrentam pressões crescentes de investidores, reguladores e consumidores para reduzir suas pegadas de carbono e alinhar suas operações com as metas globais de clima. Empresas em todo o mundo estão adotando metas de redução das emissões, implementando iniciativas de eficiência energética e investindo em tecnologias limpas como parte de suas estratégias de mitigação climática.

Além da diversificação do portfólio de energia para incluir uma maior proporção de fontes renováveis, estão investindo em tecnologias de captura e armazenamento de carbono para mitigar as emissões de suas operações existentes. Empresas em setores como manufatura e transporte estão também, avaliando suas cadeias de suprimentos e operações logísticas para reduzir suas emissões. Isso inclui a adoção de práticas de economia circular, onde os resíduos são minimizados e os materiais são reutilizados ou reciclados, e a transição para veículos elétricos e outras formas de transporte sustentável (RP ESG Projects, 2024).

E a sua empresa, o que tem feito?

Referências Bibliográficas:

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Prática Recomendada: ABNT PR2030: Ambiental, social e governança (ESG) – Conceitos, diretrizes, modelo de avalição e direcionamento para as organizações. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro: ABNT, 2022.

IEA – Instituto de Estudos Avançados. Mudanças climáticas e a pandemia de Covid-19 são crises convergentes, afirmam pesquisadores. In: http://www.iea.usp.br/noticias/mudancas-climaticas-e-a-pandemia-de-covid-19-sao-crises-convergentes-afirmam-pesquisadores Acesso em: 31/03/2021.

Freire, A. E. Revisão Financiamento Sustentável. RP ESG Projects. Curso Implementação IFRS S1 e S2 ESG de Verdade. PDF. 18/11/2024.

Santos, A. Mudanças climáticas afetam agricultura e prejudicam a produção de alimentos. Jornal da USP: 05/03/2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/mudancas-climaticas-afetam-a-agricultura-e-prejudicam-a-producao-de-alimentos/

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