Muito se discute sobre os empregos que a Inteligência Artificial supostamente substituirá, e é comum encontrar advogados e juristas nas listas de profissionais ameaçados. No entanto, de acordo com especialistas em tecnologia, a realidade é que essas profissões não estão fadadas à extinção, mas sim à adaptação às mudanças trazidas pelo futuro. A governança da IA emerge como um caminho promissor para juristas que desejam se envolver com as novas tecnologias. André Gualtieri, CEO de duas empresas de tecnologia, é um exemplo que aposta nesse direcionamento.
Nas palavras do empresário, “Já experimentamos as repercussões das Inteligências Artificiais, e devido ao alcance abrangente dessas tecnologias, uma falha tem o potencial de afetar um grande número de pessoas simultaneamente”. Tornou-se inevitável escapar do uso da IAs em nosso cotidiano. Portanto, nossa tarefa é antecipar e abordar as questões que podem surgir devido a essa tecnologia, desenvolvendo estratégias eficazes para resolvê-las.
André é Doutor em Filosofia do Direito pela PUC-SP e eticista de Inteligência Artificial, um profissional especializado nas questões éticas que essa tecnologia traz. Ele é o fundador da Technoethics, uma empresa especializada em cursos sobre ética, direito e tecnologia, com ênfase em Inteligência Artificial. Ele também é o criador da Algora, uma consultoria de ética e IA dedicada a promover a integração responsável de Inteligência Artificial no mercado.
O CEO enfatiza que a governança da IA não apenas visa construir um futuro melhor para a humanidade, mas também atua como um escudo protetor para as empresas, evitando escândalos e controvérsias. Ele ilustra essa importância com exemplos, como os aplicativos de emprego e processos de contratação, que muitas vezes enfrentam críticas e avaliações negativas por não conduzirem uma triagem eficiente de candidatos. Isso não só prejudica os profissionais em busca de oportunidades de carreira, mas também aqueles que estão envolvidos no processo de seleção.
Para garantir a confiabilidade nas novas tecnologias, a governança da IA desempenha um papel crucial. No exemplo citado, empresas que não conseguem administrar adequadamente essas ferramentas podem minar a confiança do consumidor no uso da IA. A capacidade de implementar uma governança sólida se torna essencial para construir a confiança do público e do mercado nesse cenário tecnológico em evolução.
Outro exemplo polêmico mencionado pelo empresário envolveu a Volkswagen, que utilizou Inteligência Artificial para criar um vídeo em que a falecida cantora Elis Regina aparentava cantar. Essa estratégia de publicidade atraiu muita atenção, mas também gerou críticas intensas por parte dos internautas. A situação causou danos à imagem da empresa que poderiam ter sido evitados se houvesse um profissional com expertise em governança de IA envolvido no processo.
A governança também envolve o poder estatal e requer a atuação dos legisladores para seu desenvolvimento. De acordo com André, “O grande desafio de regulamentar tecnologias está em como conciliar a regulamentação com a inovação.” Países como os Estados Unidos enfrentam dilemas ideológicos na busca por uma regulamentação eficaz. Por outro lado, a China é um dos líderes na adoção de regulamentações para o uso de Inteligências Artificiais generativas. A Europa também está avançando nesse processo e tem planos de votar sua regulamentação entre o final de 2023 e o início de 2024.
Quanto à preocupação mais comum entre os trabalhadores, que é a possível redução de empregos devido às novas tecnologias, André traz uma perspectiva otimista: “Muita gente que escreve sobre isso diz algo muito importante: quando nos integramos com as máquinas, novos tipos de trabalho aparecem”. Ele também destaca a importância de todos buscarem compreender e utilizar essas ferramentas para elevar a produtividade e aprimorar o desempenho.
Em suas considerações finais, André nos convida a refletir sobre a natureza intrinsecamente humana dos problemas que a Inteligência Artificial pode causar. Lidar com essas questões requer uma profunda introspecção em nossa humanidade. Devemos ser cautelosos para não permitir que as tecnologias minem nossa autonomia, impedindo-nos de realizar tarefas básicas e cotidianas com liberdade.