Diz o ditado popular que “o hábito faz o monge”. A maioria das decisões que tomamos na vida são de baixa complexidade e os eventuais desacertos são de fácil correção, sem um custo relevante.
Porém, por estarmos habituados ao nosso modo de julgar e decidir, muitas vezes utilizamos o mesmo processo para deliberar sobre temas complexos, sem nos atentarmos sobre as consequências dos eventuais equívocos.
Por sermos racionais, somos levados a acreditar que as nossas decisões são sempre consequência de um processo lógico, o que dificulta enormemente qualquer revisão crítica do nosso processo de escolha.
Ter capacidade não significa, infelizmente, que agimos assim, mas nós acreditamos que sim. O título dessa coluna foi extraído de um capítulo da obra “Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar” do Daniel Kahneman. Ele foi o único psicólogo a ganhar o prêmio Nobel de Economia, provando que nosso processo decisório está longe de ser racional.
Esta máquina fantástica que é o cérebro humano representa apenas 2% do peso corporal, mas, em compensação, consome aproximadamente 20% da energia total do corpo em repouso.
Deixados no modo “natural”, a tendência é agirmos guiados pelas regras de bolso, pensamentos intuitivos. São aquelas decisões que tomamos de forma rápida, quase que no automático. Dúvidas e incertezas não estão presentes no modo S1.
Questões mais complexas, análise de alternativas e construção de opções, por ex., ficam a cargo do S2. Mas este, diferentemente do S1, só atua quando demandado. S1 consome muito menos energia, razão pela qual a sua atuação é predominante.
Até aí, poder-se-ia perguntar: Qual o problema? Pois, mesmo sendo o pensamento intuitivo dominante, quando me deparo com temas mais complexos, posso acionar a parte mais analítica, certo?
Infelizmente as coisas não são tão simples. Aí que entra a grande contribuição de Kahneman. Ele nos mostra como os diferentes vieses atuam, fazendo com que as nossas escolhas intuitivas pareçam racionais.
Neste sentido, um dos vieses mais atuantes é o de confirmação. É a busca deliberada por evidências que confirmem a nossa crença. É um olhar seletivo a procura de elementos que justifiquem escolhas passadas, fazendo parecer que fizemos a melhor escolha possível.
S1 não se importa com a quantidade e qualidade dos dados. Ele assume que tudo que existe é o que ele consegue ver. Para ele o mais importante é a coerência da narrativa. A qualidade e a quantidade dos dados em que a história está baseada não tem relevância. Afirmações do tipo: “toda ave voa, galinha é uma ave, logo a galinha voa” refletem pensamentos baseados em premissas equivocadas e, ainda que pareçam coerentes, levam a conclusões erradas. Nem toda ave voa.
A escassez de informação não impede S1 de operar como uma verdadeira máquina de tirar conclusões precipitadas. Tudo do que ele precisa, é acreditar que existe coerência.
Semelhante ao viés de confirmação, temos o efeito HALO, que é a tendência a aumentar o efeito da primeira impressão. Se por algum motivo gostei de alguém, a partir de alguns elementos observados, projeto uma imagem idealizada da pessoa, que reforce a minha primeira impressão.
Diante das evidências apresentadas por Kahneman de como nosso cérebro opera, como podemos agir?
Penso que, primeiramente, devemos ter claro quais decisões têm consequências relevantes, tais como troca de emprego, contratação de um novo colaborador, investimentos, etc.
Separar um tempo adequado para realização do exercício analítico. Evitar ao máximo efetuá-lo quando se está cansado, pois nesta situação o S2 não opera bem, pula etapas e toma decisões precipitadas como S1.
Lembrar que o nosso cérebro só ajudará nas decisões complexas quando requisitado. No resto do tempo será o modo intuitivo que comandará as suas decisões.
O conhecimento possibilita mudanças, mas assumir o custo delas é uma decisão individual. Se for para viver como a canção “Eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim” que seja uma decisão consciente.