A cada ano, milhares de toneladas de redes de pesca descartadas poluem os oceanos, colocando em risco a vida marinha e comprometendo o equilíbrio ambiental. No Brasil, uma iniciativa sustentável vem mudando esse cenário ao transformar essas redes em produtos ecológicos e, ao mesmo tempo, gerar renda para comunitários caiçaras.
Atuando diretamente em comunidades costeiras da Ilha Grande (RJ), o projeto Marulho já reciclou mais de 8 toneladas de redes de pesca e comercializou mais de 50 mil produtos sustentáveis, sem o uso de materiais plásticos virgens. Agora, a ação se prepara para expandir sua atuação para novas regiões litorâneas.
O processo começa com a recuperação das redes descartadas, um desafio que envolve diversas frentes. A coleta acontece por meio de doações de pescadores locais, parcerias com órgãos públicos e empresas comprometidas com a economia circular, além de limpezas subaquáticas em áreas críticas. Essas ações evitam que o material continue ameaçando a fauna marinha, já que atualmente ele representa cerca de 46% do plástico encontrado nos oceanos.
“O impacto ambiental das redes de pesca fantasmas é devastador, mas ao invés de tratá-las como lixo, as transformamos em oportunidade. O modelo de economia circular que adotamos não apenas limpa os oceanos, mas também fortalece comunidades e inspira mudanças reais no mercado e até na forma como a sociedade encara o descarte de matéria”, afirma Samara Oliveira, oceanógrafa e sócia da Marulho, empresa responsável pela iniciativa.
Após a coleta, as redes passam por um rigoroso processo de limpeza e triagem. Como esse material é denso, pesado e muitas vezes impregnado de resíduos marinhos, a higienização exige técnicas especializadas para garantir sua total descontaminação. Depois de limpas, as redes são trituradas e transformadas em matéria-prima, que será utilizada para a produção de acessórios, itens de moda sustentável e objetos de design.
A confecção dos produtos é feita por artesãos e moradores locais das comunidades de Matariz e Provetá, na Ilha Grande, proporcionando emprego e capacitação para cerca de 20 pessoas diretamente beneficiadas pelo projeto. Além de gerar renda para esses trabalhadores, a iniciativa capacita novos profissionais, promovendo qualificação e fortalecendo a economia das regiões costeiras onde atua. Os produtos sustentáveis são 100% reciclados, sem o uso de materiais plásticos novos, reforçando o compromisso com a economia circular. Entre os itens fabricados estão bolsas, mochilas, carteiras e acessórios variados.
A importância do projeto ultrapassa as fronteiras nacionais. A iniciativa da Marulho foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como parte da Década do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), um movimento global para restaurar os ecossistemas marinhos. Além disso, a empresa já recebeu prêmios e certificações que reforçam o compromisso com a inovação e a sustentabilidade.
“Com a meta de ampliar a atuação para outras comunidades litorâneas do país, a Marulho segue investindo em pesquisa e inovação para otimizar o reaproveitamento de materiais marinhos e fortalecer sua contribuição para um futuro mais limpo e sustentável. O impacto ambiental e social do projeto reforça a urgência de modelos produtivos sustentáveis e replicáveis pelas empresas.”, finaliza Samara.
Com a crescente demanda por produtos ecológicos, a iniciativa tem expandido sua linha para atender consumidores e empresas. Além de oferecer peças no site e em lojas parceiras, a organização também fornece soluções corporativas, como brindes sustentáveis e alternativas ecológicas para embalagens, reforçando o compromisso com a redução do plástico.